domingo, 28 de dezembro de 2008

Sobre a capacidade de AMAR

A Capacidade de Amar não nasce pronta com os seres humanos. O "amor" tem suas armadilhas, especialmente a dependência, a inveja (outro tem o que eu não tenho), os medos de perda, de rejeção, o ciúme (o outro gosta mais de outra pessoa ou atividade do que de mim e eu estou de fora desta interação), também tem os aspectos competitivos... Enfim, o "amor" pode ser um inferno, uma tortura. Algumas pessoas chegam a dizer coisas relacionadas ao amor do tipo: "e se eu não amasse tanto!", "como eu não gostaria de ter conhecido este sentimento", "se eu soubesse que eu iria acabar assim, eu nunca teria vivido tal coisa".

No dia a dia do consultório este fenômeno se mostra com sua força total. Amar é um processo difícil, exige muita Capacidade. Para Amar, é necessário reconhecer no outro coisas maravilhosas que não somos capazes de ter e que o outro pode nos dar e que mesmo que tenhamos estas magníficas virtudes, não conseguimos dar a nós mesmos tamanha maravilha. Para amar, temos que gostar de como o outro nos faz sentir, ou seja, suportar que vem de fora uma satisfação inigualável: um prazer, uma compreensão, uma grana, um gesto de tolerância. Em geral o amor é acompanhado de uma infinidade de outros sentimentos não tão tão nobres, não tão bonitos. Em muitos amores, sejam eles entre casais, entre pais e filhos, entre amigos, acontecem estas pequenas pimentas do cotidiano.

Não adianta achar que as dificuldades de amar se instalam apenas na casa do vizinho. Cuidado, nosso telhado também é de vidro. Para desenvolver a Capacidade de Amar, é necessário muitos processos, muitos amadurecimentos. Winnicott, pediatra psicanalista, para poder Amar de fato é preciso desenvolver a mente, a capacidade de ilusão, de construir. Ele conta que a criança, lá com o seu ursinho predileto por exemplo, desenvolve parte desta Capacidade usando tanto este objeto de amor que lhe arranca os olhos por exemplo, porque o usa de fato, que lhe joga longe, que se separa dele em mometos de independância de forma arrogante - "eu não preciso mais de você" e depois o procura com ansiedade, porque reconhece que sem aquele objeto que suporta os momentos de fúria tem valor. Quer conhecê-lo por dentro e por fora, o provoca, o testa, o saboreia.

Para Amar é necessário que se reconheça os aspectos bons daquele objeto - pessoa, que se aguente seus sucessos, que reconheça o peso que oferecemos nos momentos de tormenta, que se veja o outro como ele é, com seus aspectos bons e maus e que isto não seja suficiente para transformar a auto estima em alvo ou a relação em uma corda bamba. Amar exige conhecimento, tolerância, desidealização, partilha, é uma vivência que se confirma a cada dia, ou não. Em muitos momentos somos amados por alguém, mas se, não houver espaço para falhas, perdão e trocas, é difícil que o Amor se instale. Tenho visto no consultório que, para Amar, é preciso também aprender a vivenciar de forma consciente e fluída: a raiva, o ódio, a ira, as imperfeições, a desidealização... O Amor verdadeiro não é artigo de supermercado, é processo de desenvolvimento, de profunda gratidão - leva tempo, exige esforço e dedicação e é muito, muito gostoso.

Renata Kulpa

4 comentários:

  1. Feliz 2009 ............Como todos os animais agimos por reflexo ......... que o reflexo de amar dure por todo o ano que se inicia.

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  2. Muito grata pelos votos... Um grande abraço e muitas realizações psicoterápicas!!!

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  3. Realmente, o Amor não é para qualquer um, apenas para aqueles que estão dispostos a se sacrificar em Seu nome. Sacrificar o orgulho, o ego, as carências, as dependências... O que não é nada fácil!
    Beijos,
    Carlos Silveira

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  4. Carlos, estou muito grata por seu comentário. eu acho realmente que quando estamso "encrencados" e nada na vida parece dar certo, é hora de se tratar e perceber outras formas, outras possibilidades de sentir as situações que acontecem com a gente. Mudar não é fácil. Amar... Muito menos.

    Um abração e volte sempre.

    Renata

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