terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O início de uma psicoterapia

Alguns estudantes de psicologia iniciam uma terapia por exigência do curso de graduação/formação ou por curiosidade (ou pelo menos parece ser isto quando chegam), alguns poucos porque precisam resolver um pequeno problema, mas a maioria dos casos a chegada de uma pessoa à psicoterapia implica em muito sofrimento.

O sofrimento é dor, implacável, paralisante, desorganizadora. A pessoa que chega ao consultório necessita do espaço e de alguém disponível para conversar, desabafar, deixar doer, deixar ser... Rubem Alves comenta em seu livro "Concerto para Corpo e Alma" que lugares para rir, falar da Disney são muitos, mas que os lugares para falar da alma, são muito poucos. Na verdade, há um mito de que terapia é somente: "remexer no baú", "lugar de ver os porquês: porquê não consigo um bom emprego, porquê meu casamento se quebrou, porquê o meu filho não conversa comigo... Tantos porquês... Os seus, os meus, os dos outros... Mas o fato é que para se iniciar uma terapia não se precisa de nada disto, precisa apenas que haja vontade de ambas as partes para compreender e dar novos rumos aos sofrimentos porque mudar necessita tempo, dedicação e paciência. Às vezes o começo resulta no processo, às vezes não, mas isto é uma outra história.

Comentei em postagem anterior que a pobreza psíquica (a rigidez, as fantasias, as crenças negativas que impedem) turva o olhar para as situações da vida, faz com que os resultados sejam fatalistas e "precisos", não abrem as possibilidades, as outras formas (opiniões, sentimentos, vivências, verdades), nos torna aprisionados em esquemas mentais antigos ou até mesmo infantis. Compartilhar experiências desenvolvendo-as em uma atmosfera emocional de confiança e sem outras versões externas confrontantes, desenvolve a capacidade de pensar da pessoa, de criar imagens sobre os fatos da vida dentro dela, sobre os sentimentos, de descrever como percebe as relações, de repensar suas verdades, desenvolve novas capacidades de representar, de amar, de investir, de reconhecer que a mente de uma outra pessoa é tão complexa quanto a sua própria e logo, muitas são as novas possibilidades.

Se o início de uma terapia é marcado, em sua maioria, pelo sofrimento, já o processo do tratamento é diferente, é marcado por múltiplas emoções. Não é raro que uma sessão de terapia passe das lágrimas ao riso, ou do riso às lágrimas... Descobertas não podem ser julgadas e sim sentidas. O sentimento e o compartilhar transforma as pessoas, desenvolve criatividade, autoconhecimento, desejo de coisas novas, paz. Muitas vezes, para se enxergar o que se tem dentro e fora de si mesmo, é preciso perceber a desordem e as falhas de nossos processos adaptativos para se reinventar. Não há um processo de crescimento sem algumas dores, o início é mais difícil, não há garantias, nem controle, para se obter os ganhos, é preciso investir.

Renata Kulpa

Um comentário:

  1. Renata! Sou o irmão da Lú! Legal teu blog!! Gostei muito... Uma das coisas que o psicólogo clínico precisa saber fazer é poder tolerar não entender os porquês, e tentar não se angustiar com isso, muitas vezes a pressa por entender estraga tudo. Delicado isso! Buenas, vou te acompanhar por aqui e também tenho um blog de música, se quiser visitar serás bem vinda. Bjo!

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