sábado, 24 de janeiro de 2009

Verdades e mentiras...

Me perguntaram esses dias: "Vem cá Renata, como tu podes saber se estás realmente tratando uma pessoa se tu não tens como saber se ela está realmente te falando a verdade?" Respondi: bela pergunta! Muito astuta! Porém, o que realmente conta em uma psicoterapia não é a veracidade dos fatos externos e sim dos fatos internos. O que importa, é o que se sente.
Na psicoterapia, olha-se para dentro um do outro. Por mais incrível que possa parecer, as pessoas contam sim o que aconteceu realmente, inclusive de suas mentiras internas. Porque olhando pra dentro, aparecem as contradições, as verdades emocionais, é possível perceber as mentiras através as palavras convictas porque, essencialmente, se precisa falar da verdade para existir. A pessoa "se trai" porque a verdade dentro de si fala mais alto.

Uma vez um supervisor muito querido e um excelente amigo, João Luiz Costa Ribeiro, terapeuta muito experiente também, revelou-me algo que havia aprendido em seminários de estudos na Sociedade Brasileira de Psicanálise (SBP de PA). Ele me disse: Renata, o oposto da verdade não é a mentira, a mentira é uma versão da verdade, um processamento de conteúdos mentais, uma fantasia, revela desejos, intenções, significados. Já a dissociação (finge que não acontece, não pensa, não expressa, não representa apenas exprime através de ações, sintomas físicos, fugas...), esta sim é oposto da verdade. Logo, penso eu, a verdade é algo que pode ser sentido e registrado dentro de alguém. E este sentir e registrar garantem o status de existir no mundo, no compartilhar, garante o status de ser. Se tem algo que toca realmente a experiência humana é o existir, o expressar-se. Isto é reconhecimento e tem valor.

Agora pergunto, será que a veracidade dos fatos, quando o objetivo é proporcionar que o outro apenas seja ele mesmo e possa curtir o que há de melhor dentro de si, será que isto é realmente importante? Por favor, escreva seu comentário...

Renata Helena Vasques Kulpa

2 comentários:

  1. As vezes colocamos nossas mascaras, não para nos escondermos, mas sim para ficar mais fácil nos mostrar como realmente somos ..............fiquei imensamente feliz pela sua presença em meu blog

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  2. Muito bom, Re. O João sempre deixando marcas na tua vida, e consequentemente na minha também. Concordo muito contigo e com ele. Acho que podemos trabalhar muito bem com a omissão da verdade, ou essa nova versão da verdade. Mas acho que tem certas mentiras também que não se sutentam. Quando um tratamento é bem conduzido o próprio paciente vai se confrontando com contradições em relação àquela primeira mentira e o "novelo se desenreda" por si só. Pelo menos é assim que percebo...
    Adorei! E adoro tu!

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