segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Deixar ir... Mas o que fica?

Em tratamentos de psicoterapia, muito momentos são extremamente tocantes, a experiência compartilhada ensina para todas as partes, seja entre terapeuta e pessoa que busca ajuda ou entre terapeuta, crianças e suas famílias. Mas este comentário de hoje, para mim, como terapeuta é também muito especial.
Tenho atendido várias pessoas que perderam entes queridos: pais, irmãos, amores, filhos... As perdas são muito difíces de encarar e deixam marcas muito profundas: sonhos não realizados, tristeza, desesperança, dificuldade de novos envolvimentos. Perder alguém que se ama é uma experiência que marca de forma irreversível. Deixar ir é complexo, quem consegue? Costumo dizer que familiares que morreram fazem parte da família dos "vivos" (muitas vezes a perda mata em vida) porque as marcas do laço, do envolvimento de uma pessoa que viveu não podem ser apagadas. Tenho reparado ao longo do tempo que cada pessoa reage uma forma diferente ao luto e cada situação é única: depende das condições em que o ente querido morreu, das condições emocionais, financeiras, familiares de quem perdeu naquele momento. E mais ainda... Qual é o sentido que ficou na pessoa que perdeu? Não há palavras que possam explicar ou amenizar. O sentido das coisas tem que ser sentido. Apagar lembranças? Impossível!
Muitas vezes vemos pessoas que perderam entes queridos assumindo características, manias, dores físicas e uma série de situações que pertenciam ao ente que faleceu. Quem está de fora, muitas vezes julga, diz que se deve tratar o assunto como "bola para frente". Mas precisa-se ter cuidado - sentir, de um jeito único e ter espaço para amar em paz é "bola para frente" - a capacidade de amar é de quem ama e esta, se multiplica.
A todos os que vivem o dilema de deixar ou não deixar ir alguém que ama e perdeu, digo-lhes, sintam. Porque não há como barrar a partida, mas também não há como arrancar o que se sente. Só se pode ser aquilo que se é... E mais nada. Um grande abraço:

Renata Helena Vasques Kulpa

2 comentários:

  1. Re, só a sincronicidade explica nossos posts tão em sintonia. Luto e saudade. A saudade talvez seja a herdeira de um luto sadio, um luto onde possa se expressar a dor da perda, a dor de nos sentirmos tão impotentes quando percebemos que o que temos de mais valioso na vida não está nem um pouco sob nosso controle, que são justamente as pessoas que amamos. Nossas relações. Mas o que temos controle é de estarmos o mais próximo possivel de quem amamos e cultivarmos esses laços que nos nutrem. E tendo dito isso fico aqui me perguntando porque é que a gente não se vê ha tanto tempo, hein? :)
    Esse feriado vou viajar mas semana que vem a gente faz alguma coisa, nem que seja ir no super juntas!!! Já estamos mais pertinho de nos ver, isso com certeza! Bjo querida

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  2. É sempre prazeroso visitar a Casa da Psicoterapia.

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