domingo, 8 de novembro de 2009

A necessidade de avaliar - pais versus escola: medicar ou não medicar?!

Este assunto é bastante polêmico e atual. Crianças e adolescentes são medicados com muita frequência e cada vez mais. Os pais se perguntam: "Qual é o critério? Deve-se medicar a criança ou o adolescente? Como evitar? O caso do meu filho é para isto?" A melhor resposta para isto encontra-se em uma boa avaliação. Normalmente as crianças ou adolescentes chegam aos consultórios em busca de respostas porque os pais são pressionados pela escola. A medicação é uma excelente ferramenta quando bem indicada e não há o porquê não utilizá-la quando os benefícios podem ser excelentes, por exemplo: medicação para déficit de atenção ou para depressão, ansiedade, enfim... Já vi muitos casos em que o benefício é indiscutível. Porém, deve-se levar em consideração alguns aspectos:

1) Em que momento está ocorrendo a avaliação?
Normalmente os pais resistem durante muito tempo para avaliar seus filhos, isto é normal, esperado mas causa muito mais angústia. Por este motivo, os pais acabam procurando atendimento no final do ano, momento em que a criança ou adolescente já estão prejudicados em seu rendimento escolar e no relacionamento com seus colegas e professores. Nestes casos, o estresse é muito grande e a emoção dos envolvidos já está em alto grau de ansiedade para ter uma resolução. É importante lembrar destes aspectos que virão a seguir.

2) Uma boa avaliação
Uma boa avaliação é feita por um profissional da saúde mental: psicólogo ou psiquiatra e também pode envolver um profissional de interface saúde mental/educação como o psicopedagogo, mas normalmente é um diagnóstico conjunto. É necessário levar em conta mais do que sintomas em uma avaliação e é muito preocupante uma avaliação feita às pressas. Crianças e adolescentes têm diagnóstico, mas em função do desenvolvimento, estes são muito mutáveis e muito permeados pelos acontecimentos do ambiente. Há um número muito significativo de diagnósticos mal elaborados ou inconclusivos. Dúvidas são uma constante porque afirmar algo sobre um ser em desenvolvimento é de extrema responsabilidade. Muito frequentemente a avaliação se utiliza de testes ou escalas para mapear as zonas de conflito e ampliar a visão das capacidades da criança e do adolescente antes de optar por uma medicação. Mas não é uma regra geral. Também é fundamental levar em consideração aspectos orgânicos e os estudos atuais da neurociência que têm auxiliado e muito no alívio do sofrimento além de emprestar soluções práticas para resolver questões que causam muito desgaste no dia-a-dia.

3) Ansiedade, pressão e desconfiança
São três variáveis que apesar de incômodas forçam uma solução. Um ser humano sem conflitos e questionamentos não cresce, não amadurece, não evolui. A vida em sua completude também envolve problemas, imperfeições, culpas, erros... As situações de estresse são oportunidades de rever atitudes e buscar novas formas de ser feliz. Sentir a realidade de forma negativa obriga a busca de novas formas de olhar e de fazer. A solução sempre existe, mas muitas vezes não é da forma que se pensou ou se desejou. Trabalhar com a frustração é necessário na vida de qualquer casal que deseja constituir uma família integrada.

4) A resolução
Após uma boa avaliação (que leva um tempo para ser concluída, não é imediata e exige muito evolvimento familiar) são levantadas todas as situações: medos, fantasias, ansiedades, potencialidades, sintomas, relações da dinâmica familiar, estilos de enfrentamento das famílias frente aos problemas, histórico familiar, presença de problemas bioquímicos ou neurológicos... Tudo muito complexo e influenciando junto ao mesmo tempo. A resolução parte de uma conversa franca, honesta e transparente entre família e profissionais. E também entre os profissionais envolvidos. Onde a palavra final pertence à família. Logo, a pressão é importante, mas ninguém, ao não ser os pais ou cuidadores deve decidir sobre o que fazer.

5) Tristes realidades
***É lamentável perceber como alguns profissionais não se interessam em atualizar-se e se mantém fora de discussões da área, sem tratamento pessoal, formação ou supervisão. As decisões são feitas em equipe e ninguém deve tomar uma decisão solitária. Mesmo profissionais liberais, hoje, não trabalham sem auxílio técnico de alguma instituição ou de instrutores treinados para afirmar suas conclusões devido à grande complexidade envolvida.
***Também é lamentável quando alguma escola não compreende o momento e dor de uma família e tenta "forçar, obrigar" familiares a medicar quando a criança ou adolescente, apesar do sofrimento, não tem indicação para medicação. Existem situações de grande conflito e incômodo para o ambiente que não se relacionam com questões orgânicas e que a medicação em nada auxiliaria na resolução do conflito. Nestes casos a solução é a psicoterapia, que leva tempo, não tem resultados imediatos e necessita envolvimento. Por conta destes momentos, vemos muitas crianças e adolescentes pipocando de escolas e levando seus problemas à outros locais, se expondo, por não ter um acolhimento adequado.
***E ainda, apesar de toda a informação disponível em vários veículos de comunicação: rádio, tv, jornais, internet, ainda haja famílias que não "crêem" (porque não é uma questão de crença) em um tratamento adequado e negligenciam a procura da avaliação ou se recusam a se envolver com o tratamento da criança/adolescente como por exemplo: constata-se a necessidade da medicação e não dá para o filho ou vai à psicoterapia e se recusam às mudanças que eles mesmos sabem que necessitam ser feitas e não o fazem por comodismo ou falta de interesse... Nem sempre levar para avaliação e levar para o tratamento significa realmente tratar.

6) Bem estar da criança e do adolescente é missão de todos
Além de estar escrito no estatuto da criança e do adolescente esta é uma grande realidade que nem sempre é compreendida. Não adianta os profissionais terem uma opinião e a família outra. ou ainda, parte da família ter uma opinião e outra parte não. Ou seja, uma boa avaliação necessita explicitar tanto a situação, que esta fique clara para todas as partes e que as dúvidas sejam em busca da resolução, da construção e da melhora do sofrimento tanto da criança ou adolescente, quanto da família. Em alguns casos a própria criança ou adolescente reconhece sua necessidade e a família não a escuta por seus próprios medos. Para uma avaliação de sucesso é necessário abrir-se para ouvir e querer resolver as dificuldades, senão, é perda de tempo.

Há muitos outros aspectos que não serão abordados aqui, mas de qualquer forma, este é um texto geral, fruto de uma longa experiência de trabalho. Informar-se, questionar, tirar dúvidas é um direito e ao mesmo tempo um dever da família antes de tomar uma atitude.

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